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Quem é Anete Ring?

Artista plástica, arquiteta e designer. Vive e trabalha em São Paulo.


Formou-se arquiteta em 1980 pela Technion Institute of Technology, em Israel, onde estagiou junto à equipe que desenvolveu o Plano Diretor da Grande Tel Aviv. Em 1981 fez o curso de confecção de bonecos artísticos no Centro Acadêmico da Universidade Sorbonne, Paris. Trabalhou por dois anos com Cenografia e Educação Artística pela Secretaria de Educação de São Paulo. Atuou como arquiteta e designer. Associou-se em 1985 à escultora Sara Rosenberg. Juntas até 2008, desenvolveram intenso trabalho  na área de design de produto e criação artística, tendo recebido inúmeros prêmios, participado de mostras e publicações nacionais e internacionais. Nos últimos dez anos, Anete focou sua atividade na carreira de artista plástica, participou do Atelier Sérgio Fingermann de 2004 a 2007 e em seguida abriu sua primeira exposição individual de pinturas, no Espaço Contraponto, em São Paulo. Realizou doze exposições individuais e inúmeras exposições coletivas.

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Pílula visual:
Documentações de almas

A maneira de Anete Ring trabalhar as paisagens é diferenciada. A horizontalidade, a ausência de figuras humanas e um lirismo poético perceptível pela dramaticidade do diálogo entre o conjunto e cada detalhe apontam para a criação de uma atmosfera de silêncios e de entregas.

 

Existem gritos de beleza e de existencialismo em cada obra. A partir daquilo que vemos no trabalho, somos convidados a mergulhar em um despertar e emoções, que podem ir da alegria de estar perante uma obra madura a um sentimento de humildade perante a grandeza do que vemos.

Podemos nos sentir pequenos perante o universo e a própria arte. Essas percepções geradas por Anete Ring comprovam seu talento no construir um fazer que nos faz sentir nossa potencialidade artística e humana.

 

Suas paisagens são documentações de almas a carimbar nosso passaporte para um mundo existencialmente mais rico, denso, complexo e belo.

Oscar D’Ambrosio

Vidas úteis

Os catálogos telefônicos de páginas amarelas ocupam um lugar todo especial no catálogo esquecido dos catálogos telefônicos. As páginas amarelas listam as pessoas jurídicas e os profissionais da cidade, de acordo com suas especialidades: de açougues a especialistas em zarcão e em zinco, ali estão enumeradas as atividades, produtos e serviços com as quais se produzem os chamados “dias úteis” de uma metrópole. 


Não se trata de um catálogo de felicidades, mas, antes, de um catálogo de necessidades: seus itens não formam um catálogo de vocações, cujo exercício proporciona realização pessoal, e, menos ainda, deleite ou êxtase. Bem mais modestamente, são só as maneiras que as pessoas encontram para fazer frente às imposições da sobrevivência, em meio às precariedades e, sobretudo, aos temores da vida na metrópole: jeitos de se tornarem úteis aos outros – e também a si mesmas.


A série “Páginas Amarelas”, de Anete Ring, retoma a estética do expressionismo alemão, movimento surgido há cerca de um século, numa época em que a Alemanha recolhia os escombros da I Guerra Mundial e se confrontava com os aspectos mais cruéis e desumanos de uma sociedade capitalista, industrial e urbana.

Apresenta uma ótica que não é a dos vencedores, dos bem-sucedidos, dos bons e dos belos, mas a dos milhões silenciosos e anônimos, cujos empenhos, esforços e sofrimentos, nos “dias úteis”, põem em marcha a grande maquinaria da cidade moderna, ao mesmo tempo em que suas “vidas úteis” vão sendo devoradas pela passagem do tempo.

 

Os rostos que surgem sobre essas páginas amarelas, arrancadas de velhos catálogos, há décadas destinados ao lixo, mal transparecem sob máscaras de sofrimento, dor, desilusão ou desespero. São rostos de quem luta, a vida inteira, pela vida, vida nua, sem vitórias, muitas vezes, sem nem mesmo um sonho de vitória, e, nas páginas amarelas, se põe a disposição e a serviço de alguém outro, a quem talvez possa vir a ser útil. 


Anete Ring nos propõe um comentário sobre a utilidade dos “dias úteis” e, ao mesmo tempo, sobre a efemeridade e a ausência de significado das “vidas úteis”: uma reflexão acerca dos caminhos que se oferecem à vida humana no contexto da metrópole e da “civilização” modernas.

 

 


L. S. Krausz
Professor Livre-Docente da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

Uma cartografia particular

Os horizontes estão entre as obsessões artísticas de Anete Ring: eles se encontram presentes, de uma maneira ou de outra, em quase todas as obras incluídas nesta mostra, como se tentassem fixar, no fundo da tela, um olhar em busca permanente.

 

A idéia dessa busca aparece, também, naquilo que se dirige para esses horizontes: ora caminhos que cruzam uma paisagem desolada em direção ao infinito; ora a luminosidade que emana de superfícies líquidas e faz pensar na travessia de grandes extensões de água, em trajetos que partem não se sabe bem de onde – mas cuja meta parece estar, paradoxalmente, no horizonte.


É como se aqueles que fixam com o olhar este lugar prometido, sempre ali no fundo das telas e desenhos, fingissem não saber que sua meta é inalcançável: o horizonte, por definição, está sempre mais além, porém um impulso atávico, um ímpeto ancestral e irresistível, empurra o olhar, sempre, para esse lugar que não é um lugar, esse ponto que se define pela distância insolúvel.

 

É sua inatingibilidade o que mantém acesa a chama do desejo de seguir adiante. 

Se o mito da distância, das andanças e das diásporas fundamenta a obra pictórica aqui apresentada, há também trabalhos que aludem à solução dos enigmas que o horizonte propõe: um caminho que termina abruptamente e mergulha no vazio é o término, forçado ou deliberado, de todo deslocamento horizontal.


É, igualmente, um encontro, desejado ou não, com o hic et nunc, o aqui e o agora. O deslocamento, agora, dá-se apenas no eixo vertical: em direção às profundezas ou às alturas, que são, também, espelhos uma da outra.


Novas dimensões revelam-se, a partir daí, como novos arranjos para antigos paradoxos: a partir de recortes verticais, a paisagem infinita deixa-se capturar pelos limites de um olhar lateral, pela finitude que é a marca e o sentido da existência. E assim cativada, humaniza-se, torna-se menos majestosa, também menos terrível, talvez mais sábia.   


Luis S. Krausz

Professor Doutor em Literatura Hebraica e Judaica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em RDIDP. Pós Doutor em Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo (2010).Doutor em Literatura e Cultura Judaica pela Universidade de São Paulo (2007), com estágio de pesquisa na Universidade Livre de Berlim. Mestre em Letras Clássicas pela University of Pennsylvania, com tese escrita na Universidade de Zurique sob orientação do Prof. Dr. Walter Burkert (1992). Aluno especial do Jewish Theological Seminary of America e da Columbia University nas áreas de Literatura Bíblica e Literatura Clássica.

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